autor: Olga Grómova |
Ao início dos anos 2000 em Moscou foi introduzido o “sistema automátisado de controle de passageiros”. A ideia foi deixar entrar ao transporte (ônibus, trólebus, bonde) só pela primeira porta, onde inevitavelmente o passageiro deveria passar por um torniquete com validador.
O ingresso dos passageiros agora consumia muito tempo (imagine 10-30 pessoas entrando só por uma porta e assim em cada parada!). E se você não tinha ticket ou queria uma consulta do motorista, você paralisava o ingresso de outros passageiros, que ficavam tão zangados, que lhe queriam matar (é muito sério no inverno, quando por causa de frio você pode ficar doente, passando tempo demais na rua: você quer saber a rota de ônibus, e outros querem ir à casa o mais rápido possível, que conflito!). Os passageiros clandestinos entravam só de jeito humilhante de se inclinar por debaixo de torniquete.
A prefeitura automatizou o trabalho dos controladores - beleza. E também fez os moscovitas perder tempo. Ponhamos que os moscovitas perdiam uns 20 minutos por dia (ida e volta), são 7 hrs por mês (22 dias laborais), são 84 hrs por ano! Desde 2004 até 2018 cada moscovita perdeu 49 dias, entrando no ônibus! E os moscovitas pobres (os ricos usam carros ou táxis) aceitaram este sacrifício…
O absurdo durou até 2018. Quando o novo prefeito de Moscou cancelou o sistema de controle de passageiros automatizado.
Em parte porque a população de Moscou continua crescendo e é importante subir a movilidad numa cidade superpovoada e muito estressada pelo trânsito.
Em parte porque o novo prefeito reforçou o controle de passageiros em metrô, cuja rede foi aumentada quase 2 vezes. O estacionamento de carros se tornou pago e seu valor está crescendo cada ano.
E o pagamento no transporte “terrâneo” (que não seja subterrâneo/metrô) se tornou quase “opcional”, porque de fato não há controladores em ônibus, trólebus, bonde, ônibus elétrico. Você entra por qualquier porta e logo procura um dos 2-3 validadores para pagar com um cartão especial. Pode ser que isso fosse um “presente” aos moscovitas pobres devido à crise (ingressos estagnados e os preços subindo os últimos 5 anos)?
Na Estônia todo o transporte público é de graça para os residentes, bom exemplo para a Rússia, o maior país do mundo! Sería uma ótima forma de entusiasmar os russos de viajar mais e sobir sua solidaridade.
Mas por agora este jeito de viajar sem pagar em Moscou ainda é ilegitimo. E isso é só para o transporte coletivo que não seja metrô, e o metrô é fundamental. O pobre primeiro tem que usar ônibus (ou bonde, trólebus, ônibus elétrico) para chegar ao metrô - se aqui ele com certo risco pode viajar de clandestino, no metrô ele vai pagar 100%. Usando carro, o moscovita também terá que pagar pelo estacionamento… Provavelmente com esse "marqueting" os moscovitas agora pagam mais que antes...
E que passou com ex prefeito? Ele está aposentado, tem propriedades na Áustria, na Inglaterra, sua mulher milagrosamente é uma das mulheres mais ricas do mundo… E o sistema de “paralisis” automatizado foi só uma de muitas brincadeiras de esse senhor. Irónicamente esse senhor hoje até parece um prefeito ideal para muitos moscovitas, porque o prefeito novo apresenta outra fase da involução.
Ao mesmo tempo a vida em Moscou tem muitas vantagens: salários mais altos que em província, segurança, festas intermináveis, abundância de tudo. E a vida sempre pode piorar, certo? É possível que num futuro nós recordemos das primeiras décadas do século XXI como os “tempos dourados”.