russofobia na arte contemporânea |
Com frequência recebemos a mesma pergunta, se era melhor a vida na época da URSS ou hoje?
Claro que é uma pergunta pouco razoável: o mundo está mudando constantemente, aparecem coisas que antes simplesmente não havia nem na URSS, nem em nenhum lugar: a internet, telefonia móvel, inovações tecnológicas na conservação de alimentos o que permite consumir durante o inverno os produtos do verão, etc. São coisas rotineiras que antes não existiam não somente na URSS, mas em nenhum lugar. O turismo como um fenômeno novo, motivado pelo surgimento da classe média nos países pereféricos. Tudo isso: a internet, telefonia móvel, supermercados enormes, turismo latino e chinês, etc. viria sem dúvida à URSS iguais aos que vieram à Rússia atual, como vieram estas coisas à China.
A diferença entre a URSS e a China é que a URSS quebrou e está sangrando e a China ainda segue crescendo.
Tenho 33 anos, tenho minha experiência pessoal de vida na Rússia atual, posso sentir a vida com minha pele (sou da Siberia, morei em diferentes cidades, ultimamente vivo em Moscou), e além disso tive muitas conversas com meus pais, tios, avôs, com pessoas de diferentes regiões da Rússia, com meus chefes, meus empregados, com estrangeiros que moraram na URSS, etc. E minha conclusão é que o nível de sofrimento na Rússia atual é muito maior que na época da URSS.
Como intelectual tenho acesso às estatísticas e para mim é obvio que o consumo de qualquer coisa, incluindo a liberdade, na Rússia atual caiu igual à expectativa de vida dos russos.
Qualquer pessoa que protagoniza em público com as cagadas anti-soviéticas simplesmente quer dizer que não sabe muito, que não tem nem cérebro, nem coração, que está influenciada pela imprensa amarela, que está manipulada pela gente que está satanizando o período soviético e procura legitimar a atualidade. São burros que dão pontapé em leão morto. O próximo passo depoís de chegar até o antisovietismo é uma russofobia absoluta: "não somente o período soviético era uma desviação civilizatoria, senão toda a história da Rússia é um erro".
Mas ao mesmo tempo eu reconheço que a autocrítica exagerada ou com outras palavras o "autocagadismo" não é só um fenômeno típico russo. Acaso não é um "mainstream" entre os intelectuais estadunidenses dizer que os EUA são uma tumba da Europa e pelo estilo. Os mesmos europeus enterram sua Europa a cada século...
Estou lendo o ensaio de Susan Sontag sobre a fotografia: a autora entre outros exemplos pôs a obra de Michael Lesy sobre a vida rural nos EUA nos anos 1890-1910 - Wisconsin Death Trip (1973): os EUA de Lesy estão cheios de indivíduos, prontos a se enforcar nos estábulos, jogar as crianças nos poços, decapitar as suas mulheres, queimar as colheitas dos vizinhos - o país perdeu a sanidade mental não no Vietnã, mas uns 50 anos antes...
É uma noticia ruim para nossos liberais - o Ocidente não é um modelo a seguir, as coisas são muito mais complicadas.
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