Todos que conhecem a Praça Vermelha lembram de um predio vermelho oposto a São Basilio, que também parece um castelo de contos de fadas: o Museu Histórico. O predio é muito lindo, mas são poucos os turistas que se atrevem a entrar no Museu. Os guias costumam dizer que é complicado demais, que o Museu interpreta a historia da Rússia a partir dos tempos dos dinosaurios. É verdade que este museu requer muitos conhecimentos de guias, eu não acredito que na Rússia haja muitos especialistas que poderiam guiar bem por este museu a menos em russo. Para dar-lhes a ideia do que falamos eu traduzi as conclusões do livro de Serguei Nefiódov "História da Rússia. Análise de fatores. Desde os tempos antigos até as Grandes Revoltas do século XVI".
O destino da Rússia, em grande medida, foi determinado pelo fator geográfico. A planície russa era uma enorme floresta, ao sul, da qual ficavam as estepes e ao noroeste - "o Deserto do Norte", Escandinávia, que naquele tempo era quase inutilizável para a agricultura.
A grande Estepe
A Estepe Pôntica era um ramo ocidental da Grande Estepe que ocupava a metade da Eurásia; isso era uma habitação dos povos nômades, que se diferem muito pelo estilo da vida dos agricultores.O nomadismo, a arte da equitação e a constante luta cruel pela existência transformaram os nômades nos centauros, que disfrutavam da total excelência militar sobre as milícias pedestres dos pacíficos povos de floresta. O papel da técnica militar com toda a força demonstrava a influência do fator tecnológico: de vez em quando as innovaçoes da aplicação da cavalaria davam aos nômades as novas vantagems militares - e como resultado do Oriente, da Grande Estepe, para a Estepe Pôntica vinha uma onda de turno da invasão dos invencíveis e crueis conquistadores.
A onda de citas foi ligada à aparência dos arqueiros a cavalo,
a onda de sármatas - à de catafratos com lanças,
a de hunos - à invenção do composto arco de huno,
a de ávaros - à aparência de estribo,
a de turcos-khazares - à criação da sela turca,
a de cumanos - à aparência do sable,
a de mongois - à criação do arco mongol (este arco era um invento tão importante na sua época que pode ser comparado com o famoso Kaláshnikov, a arma era tão terrivel que formou parte do conjunto da coroação dos czares rússos junto com o Gorro de Monómaco, etc.).
Escandinávia
Outro foco que vomitava as ondas das invações era o "Diserto do Norte": a alta pressão demográfica, atividades pecuarias e guerras constantes faziam a mentalidade escandinava parecida à mentalidade agressiva dos nômades, e de vez em quando nas mãos dos escandinavos caiam as armas novas. A onda das conquistas escandinavas foi ligada à criação de dracar, quando a invasão dos góticos - à tática da falange de lanças.
Os eslavos entre dois fogos
As áreas de floresta e de estepe da Planície Russa eram muito diferentes pelas condições das atividades econômicas. Ao contrário da Grande Estepe nas estepes do Mar Negro era possivel a agriculutra; alem disso, em comparação com a área florestal os solos aquí eram mais ferteis e o clima era mais quente, por isso os habitantes da floresta sempre quiseram se mudar para a floresta-estepe e logo - para a estepe.
Não obstante as invasões regulares dos nômades redundavam na morte dos estabelecimentos dos lavradores na estepe. Os lavradores sobreviventes fugiam para as florestas do norte, mas os nômades os perseguíam e submetíam as áreas florestais do Sul - quando as tribos florestais do norte ficavam independentes (ou quase independentes). Logo quando a situação se estabilizava, os eslavos submitos saiam das florestas e com permissão dos conquistadores voltavam a trabalhar nas florestas-estepes - mas a seguinte invasão outra vez redundava na morte destes estabelecimentos.
As ondas de invasões e catástrofes demográficas dividiram a história da Planície Russa em varios periodos. Às vezes as invasões seguíam uma à outra tão rápido, que os conquistadores não tinham tempo para criar um estado novo. Assim era no periodo das Grandes Migrações dos Povos, quando depois dos hunos vieram os ávaros, e logo - os antigos turcos (turcutos). Em outra ocasão os cumanos, que conquistaram as estepes do Mar Negro, não puderam aproveitar sua superioridade nas condições das florestas, então a planície foi dividida entre varios povos pelas fronteira das áreas naturais. Em total se conta sete períodos, quando na Planície Russa existíam relativamente estaveis organismos estatais ou tribais:
o período dos citas,
o dos sármatas,
o dos góticos,
o dos khazares,
o de Kiev,
o dos mongois,
o de Moscou.
Se tentamos achar algo comum na dinâmica histórica deles, teremos que notar que todos eles começavam depois das catástrofes demográficas, logo prosseguia o crecimento da população, que terminava com uma nova catástrofe ao final do período - de este modo, se trata dos ciclos demográficos. Nos seis casos exceto o último, o de Moscou, a causa principal da catástrofe foi uma invasão dos novos povos, originada pela criação de novas armas. O nascimento do czarstvo (reinado) de Moscou e domínio da povoação russa também estãoligados a uma inovação fundamental: o surgimento das armas de fogo, que provocou uma onda das conquistas russas. Depois do final das conquistas, começava o período da síntese social, quando entre os vencedores e os vencidos acontecia um ativo intercambio cultural. Os resultados das sínteses em todos os casos, exceto o de Moscou, foram as criações dos estados xenocráticos, onde os conquistadores se tornavam um estamento militar.
Alem disso os representantes submetidos do estamento militar anterior, que dominava antes, também entrava na nova classe governante. Na variante de Moscou, a corte russa integrou também aos tártaros, neutralizados na época de Ivã, o Severo. Às vezes, os povos submetidos tomavam o nome dos conquistadores (no período de citas e no de Kiev).
Segundo Serguei Nefiódov, no período de Kiev os eslavos foram conquistados pelos escandinavos (no século IX, os escandinavos eram um pesadelo de toda Europa: eles destruiram as maiores capitais europeias - Paris, Londres, Sevilha, Lisboa, etc. Eles conquistaram por completo a Irlanda, a Ingaterra, a Normandia. Na Normandia os vikings pouco a pouco se mezclavam com os conquistados e se adaptaram às leis da França, aportando a suas técnicas. Mas, se finalmente as nações europeias puderam resistir aos vikings com ajuda da sua cavalaria, no Leste, os eslavos, que ainda não tinham a cavalaria, falharam. Como os saxões conquistaram a Inglaterra, os vikings conquistaram aos eslavos, mas depois eles mesmos foram digeridos, absorvidos, triturados pelos eslavos e pelos seus espaços, deixando para os eslavos só o seu nome - "russos", que quer dizer na sua lingua "os remadores de drakkar".).
Mix das cultúras diferentes dentro do código cultural dos russos
A especifidade da Planície Russa é a sua proximidade com os poderosos e culturais estados do Mediterraneo e do Oriente Médio. Por isso, logo depois da estabelização do novo estado, ele começava a experimentar as fortes infulências políticas e culturais vindas do Sul. Logo ele se tranforava parcialmente segundo os padrões dos vizinhos sulinos. O período dos citas foi caracterizado pela assimilação da cultura grega, os góticos assimilavam a cultura romana, os khazares assimilavam as culturas judaicas e muçulmana do Oriente Médio, os varangos-russos - a cultura bizantina, os mongois e tártaros - a cultura persa, os moscovitas - as práticas militares e políticas dos otomanos. Em certos casos adotava-se não só a cultura, mas tambem a religião: os khazares se converteram ao judaismo, os russos - à ortodoxia, os mongóis-tártaros - ao islã. Em todos os tres casos (no quarto caso de Moscou também) a transformação segundo os padrões do Oreinte Médio levou à adoção de práticas da monarquía estatista.
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As civilizações vizinhas se subordinavam à periferia pôntica também em relação comercial. Conforme a teoria dos sisitemas-mundos de Immanuel Wallerstein os novos estados da Planície Russa se integravam rápido ao mercado mundial e forneciam as mercadorias necessárias para os paises sulinos. Usualmente isso eram as peles e os escravos, capturados durante as lutas intestinas ou as repressões contra os rebeldes. O tráfico de escravos prosperava específicamente nos períodos dos citas, de Kiev e dos mongois, quando na época de Moscou o tráfico de escravos era negócio dos tártaros de Criméia, que faziam incursões na Rússia.
Os tártaros de Criméia invadiram os mercados europeius com tantos eslavos, que a mesma palavra "eslavo" nas línguas européias se transformou no "escravo".
Ainda que a elite xenócrata cobrasse da população conquistada um tributo, o tráfico de escravos era uma fonte de renda mais importante. Entretanto os chegados ao poder monarcas autocráticos não deixavam escravizar a seus súditos, quando as fontes externas dos escravos se esgotavam bastante rápido para o final da conquista. De tal maneira a elite crescente sentia a redução de suas rendas e suas aspirações lógicas eram dirigidas para subversão da autocracia e para eclosão das guerras intestinas com finalidade de captura dos escravos. Estas aspirações se convergíam com a reação tradicionalista contra as vindas do Oriente Médio práticas etatistas - no final das contas o estado desolava nos principados fragmentados e canatos. De modo natural se manifestavam também outras lógicas do ciclo de Ibn Khaldun (pesquisador das elites do século XIV): enfraquecimento da coesão social ("assabyiyah") dos conquistadores, desenvolvimento do individualismo e consumismo.
Assim foi o desenvolvimento nos períodos de Kiev e dos mongóis, ele foi determinado principalmente pelos processos da difusão e acontecia segundo o ciclo de Ibn Khaldun:
- a síntese social e criação do estado xenócrata
- a transformação pelo padrão do Oriente Médio
- o período do domínio da monarquía etatista
- a reacção tradicionalista
- a dissolução e
- a nova conquista.
Parece que por este esquema também aconteceu o desenvolvimento no período dos khazares, como deixam julgar as poucas fontes que temos. O fator demográfico nesse período não foi determinável. Nos períodos de Kiev e dos mongóis, sua manifestação se constava só na região de Noroeste, onde o nicho ecológico era pobre e a superpopulação acontecia bastante rápido. Como prediz a teoria estrutural-demográfica, a Compressão conduzia aqui ao desenvolvimento das cidades, artesanatos, ao esplhamento de latifúndios e aluguel, à paupérie dos camponeses e aos conflitos sociais nas cidades - e logo ao fome, epidemias e catástrofes demográficas. Não obstante nas outras regiões da Rússia havia suficientes terras e as causas das catástrofes aí eram as invasões dos enemigos exteriores.
Ivã o Severo, o primeiro czar da Rússia |
Um andamento um pouco diferente das coisas se registra no período de Moscou. O estado de Moscou não foi resultado da conquista e seu surgimento foi relacionado não com uma onda de conquista senão com a de difusão. O abraçamento da nova tecnologia militar durante esta transformação permitiu ao czarstvo de Moscou virar um centro de força na Planície do Leste Europeu; isso desencadeou uma onda das conquistas russas, que deu inicio ao enorme estado russo. De tal maneira no ciclo descrito acima as duas primeiras etapas foram omitidas e o desenvolvimento começou diretamente desde a transformação segundo o padrão do Oriente Médio. Isso foi o primeiro caso, quando a onda de conquista saiu das terras eslavas e os eslavos obrigaram aos outros povos a copiar seus padrões. Não obstante estes padrões por sua vez foram engendrados pela transformação segundo o modelo do Império Otomano. Seguindo as etapas do ciclo descrito encima o czarstvo de Moscou sobreviveu o período do dominio de uma monarquía etatista e da reação tradicionalista, que não foi forte e não conduziu à dissolução do estado.
Quando se fala da monarquía etatista aquí se trata de Ivã, o Severo.
E a reação tradicionalista ao inicio do século XVII foi uma guerra das elites com finalidade de escravizar aos camponeses segundo o modelo da Polônia (fartos das tendências democratas de Ivã o Severo as elites quererem eleger os reis como na Polônia e manipula-os a seu gosto), as elites estavam já a ponto de eleger ao trono russo um rei polaco!
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