вторник, 3 февраля 2015 г.

Eterno retorno de stalinismo

Vocês acham que Putin se parece com Stalin?
O alvo do Ocidente no teatro de operações na Ucrânia é a mudança do regime em Moscou e como consequência o congelamento dos projetos russos da União Aduaneira/União Econômica Eurasiática. Também é importante moderar BRICS/OCX, que desafiam a hegemonia dos EUA.

Para atingir esse objetivo, de um lado, o Ocidente está interessado na escalada da guerra civil na Ucrânia (ajuda militar e financeira para Kiev) - assim, se consegue polarizar a sociedade russa. De outro lado, o Ocidente proclama uma guerra econômica contra a Rússia (sanções) - assim, se ativa o cisma das elites russas.

O cisma da sociedade e a das elites nas condições do déficit de recursos deve levar a Rússia para uma decadência (no pior dos casos: desastre da guerra civil e desmoronamento).

1. O cisma da sociedade

Não é suficiente que o Serviço Federal de Segurança (ex-KGB) junto com os cossacos disfarçados passe para o lado da oposição neoliberal (Navalniï/Khodorkovskiï). Também é necessária uma cena de multidão para os canais tipo CNN. Quem não veio para a Praça de Pântano em 2012 [1]? Quem não veio para a Praça de Manezh em 2010 [2]?

Para ativar esta galera se lançam os memes como "sovok", "horda", "basta de dar de comer ao Cáucaso" (em Moscou), "basta de dar de comer a Moscou" (fora de Moscou).

O cisma da sociedade se realiza:

- por via ideológica ("sovok/horda" vs "liberais/europeus")

- por via territorial (Moscou, as repúblicas étnicas, Sibéria [3])

A degradação intelectual pós-soviética só fomenta o crescimento do ódio mútuo e a radicalização da sociedade.

Por exemplo, um "cidadão irritado" publica em seu Facebook uma foto das portas a um pequeno parque memorial, dedicado ao dia 9 de Maio. As portas estão pintadas como a bandeira da URSS e a bandeira da Rússia. O "cidadão alerta" escreve vincadamente em inglês: "Back to the Future!" Seus amigos lhe respondem em comentários: "Há de disparar uma metralhadora contra essa bosta!".

Ou uma jovem nos informa sobre a apertura de uma exposição dedicada a Lenin "Mito de nosso líder amado" e sugere para os "iniciados": "Vocês sentem os cheiros de..."?

Ao mesmo tempo, se para os liberais "tudo está claro", os patriotas estão confundidos: "Cheiros de que? Qual re-sovietização? Onde vocês vêm o retorno de stalinismo? Na política do Banco Central? Nas reuniões ultraliberais do Fórum de Gaidar? E as privatarias contínuas de tudo - isso também é o retorno de stalinismo?".

1.1 Meme do eterno retorno de stalinismo 


Os patriotas perguntam: "Vocês acreditam seriamente que os numerosos monumentos dos últimos anos a Stolypin (primeiro ministro de Nikolaï II), Alexandr I (tsar, famoso por seu liberalismo), Brodskiï (poeta dissidente), Kolchak (líder do Exército Branco), até temos um monumento ao iPhone - sério vocês acham que tudo isso é "sovok" e "eterno retorno de stalinismo"?


Os liberais mais astutos respondem que "sim". "Stalinismo" em dado caso já não tem a ver com a URSS, o stalinismo é "tudo, que tem a ver com a história do estado na Rússia". A própria visão historicista já é um elemento de stalinismo! O culturólogo Vladimir Paperniï para explicar este fenômeno desenhou o modelo da oposição "Cultura 1 vs Cultura 2".

Conforme ao "preconceito" de Paperniï toda a história da Rússia é um círculo vicioso formado por 2 ciclos. Um ciclo é "criativo", orientado para o Ocidente, chamado "Сultura1". E outro ciclo é "obscurantista", orientado para o Oriente, chamado "Cultura 2".

Cultura 1
Cultura 2
A Rus’ de Kiev e de Novgorod
A Rus’ de Vladimir e de Moscou
Danylo da Galícia
Aleksandr Nevskiï
Ivã III
Ivã IV (o Severo)
Tempo de Dificuldades e Cisma da Igreja Ortodoxa Russa em XVII
Tsar Alekseï Mikhailovich, patriarca Nikon, Pedro I (?)
Aleksandr I
Nikolaï I
Aleksandr II
Aleksandr III
Lenin e os vanguardistas
Stalin e os realistas socialistas
Krushchov e o "Degelo"
Brezhnev e a "Estagnação"
Yéltsin
Putin

A Cultura 1 está caracterizada pelo cosmopolitismo, democracia, "criatividade", espalhamento, horizontalidade, futurismo, etc. A Cultura 2 está condenada ao chauvinismo, autocracia, "imitação", solidificação, verticalidade, historicismo, etc. 

Prestemos atenção que este conceito maniqueísta é extremamente eurocentrista, os fãs de tais oposições binárias passam por cima do fato que a Rússia sempre está nas condições de uma competição/guerra com o Ocidente e Oriente. Eles gostam das palavras "Nossa cultura se desenvolve através dos traços rápidos sob fogo do inimigo". Mas nem lhes passa pela cabeça a ideia, que este fogo pode ser dos Khazares, Cumanos, Cavaleiros teutônicos, Mongóis, Tártaros, Turcos, Polacos, Lituanos, Suecos, Japoneses, Europa de Napoleão ou Europa de Hitler. Eles em sério acham que a gente russa se autodispara mesmo (no Leste da Ucrânia são os milicianos os que bombardeiam suas cidades!). 

O público russo já esta tão acostumado ao modo de pensar maniqueísta (eslavófilos e ocidentalistas, mencheviques e bolcheviques, troskos e stalinistas, liberais e "siloviki", Cultura 1 e Cultura 2), que não faz sentido de republicar 4 vez na Rússia o livro de V.Paperniï [4]. 

Ironicamente este modo de pensar maniqueísta não é nem europeu/hegeliano/moderno. Ele não aceita nenhum projeto do desenvolvimento positivo da Rússia, ele condena aos intelectuais-maniqueístas a uma síndrome do pânico e suicídio. Assim, o dissidente esquizofrénico Yakov Krótov chega até sonhar com que Putin pode realizar um ataque nuclear contra a Rússia mesma! A Rússia como a conhecemos tem que ser destruída ou integrada à Europa Católica, República das Duas Nações, Terceiro Reich ou OTAN. 

Para entender a lógica da oposição russa temos que nos pôr no lugar de um dissidente-maniqueísta que vê o mundo com a óptica da luta entre a Cultura 1 e a Cultura 2. Neste caso "em sério" vamos descobrir, que o estalinismo/Mal/Cultura 2 estão presentes na Rússia moderna por todas partes: 

- Em 2000 foi devolvida a música do hino da URSS para o hino da Rússia; 

- Em 2000-2003 foi devolvida a bandeira vermelha para as Forças Armadas da Rússia (desde 2003 na bandeira vermelha aparece uma imagem da águia bicéfala, acompanhada pelas estrelas de cinco pontas); 

- Em 2003 foi inaugurado o arranha-céus neoestalinista "Triumph Palace", neoclássica outra vez vira uma moda; 

- Os antigos brands soviéticos cada vez são mais presentes (até as companhias estrangeiras marcam seus produtos com os brands da URSS, porque assim os compradores tem mais confiança: o soviético quer dizer de ótima qualidade); 

- Por toda a parte aparecem os pequenos museus (privados!) da nostalgia soviética. Há rumores da organização de um Instituto ou Museu da URSS em Uliánovsk; 

- O governo acentua seu apoio à maternidade desde 2007; 

- Em 2010 o novo prefeito de Moscou qualificou o projeto de Moscow-City como um erro urbanístico (Moscow City é um macaqueamento de Manhattan, o símbolo principal da Rússia neoliberal, o projeto prima da época de Yéltsin, cuja família é proprietária da metade da obra); 

- Em 2012 para a festa do Dia 9 de Maio Moscou foi decorado com as bandeiras vermelhas da Vitória; 

- No cinema russo o grado tradicional de antisovietismo baixa quase até zero ("Fortaleza de Brest", "Leyenda 17", "Gagarin, o primeiro no espaço", etc.); 

- Em 2013 foi devolvido o uniforme obrigatório para os alunos de escolas; 

- Em 2013 foi proibida a propaganda LGBT; 

- Em 2013 foi restaurada a homenagem de "Herói de Trabalho" 

- Restauração dos parques públicos: Gorki, Sokólniki, VDNKh. Construção do Parque Zariadie perto do Kremlin; 

- Cerimônia da apertura das Olimpíadas em Sochi em 2014 

- Restauração de 2 pavilhões na expo VDNKh para seu aniversário de 75 anos em 2014 (também foi devolvido o nome soviético VDNKh à expo, que na época dos 90 tinha outro nome, ninguém lembra qual). 

- Folclorização da cultura POP: Igor Rasteriaev, Alexandr F. Skliar, Vovós de Buranovo. Atualização do escritor nacional-bolchevique Eduard Limónov, a popularidade do presidente da Chechênia Ramzan Kadýrov (Limónov e Kadýrov são o "Id" do povo russo); 

- O interesse para todo o soviético vira um mainstream, igual ao culto quase oficial dos Romanov: são muito exitosas as exposições "Desenho Soviético", "Vênus Soviética", "Mito do líder amado", "Infância Soviética", etc.;

Putin como Alexandr III
Mas estas coisas, que mencionamos acima são só características formais do "stalinismo eterno". Ao nível de conteúdo o stalinismo volta como um "cesaropapismo" - lhes diriam os intelectuais liberais, queixando-se das "relações" entre a Administração de Presidente e a Igreja Ortodoxa Russa. A formação da "nova aristocracia" também é uma característica de "stalinismo" para os liberais, que não vem diferencia nenhuma entre o gerente de Stalin L.Kaganovich [5] e o gerente de Pútin R.Abramovich (famoso mundialmente). A confrontação com o Império de Bem (Ocidente) também é um dos sinais mais claros de "stalinismo". 




Claro, que para a esquerda ou aquelas pessoas que ainda lembram-se do passado soviético tudo isto é um ultraje. Obviamente as formas soviéticas que "voltam" já tem um conteúdo totalmente antissoviético. Trata-se do stalinismo que será o último refúgio de canalhas. O uniforme escolar na URSS sublinhava a importância social dos estudos, quando hoje na Rússia o uniforme escolar só deve mascarar a desigualdade terrível de rendas dos pais das crianças. Embora que os diretores ultimamente acudam ao ambiente soviético para suas series e filmes, eles obrigatoriamente continuam desmascarando os "crimes de stalinismo" (às vezes eles chegam até a escala épica da bobagem como o diretor mais famoso da Rússia Nikita Mikhalkov, vencedor de Óscar e um putinoide exagerado) [6]. A mesma Igreja Ortodoxa Russa parece que a única coisa que faz é lembrar aos russos sobre os "crimes" de Stalin e "perseguição da Igreja" na URSS. A alardeada restauração do Parque Gorki o fez inacessível para os Veteranos de Trabalho de todos os tempos (pelos preços de tudo dentro do parque).

Mesmo assim, achamos que há um elemento de verdade na ideia do "retorno do stalinismo". Perguntamos a um jovem designer de roupa, porque ele não quer ir embora da Rússia, se o centro do mundo para ele é Paris e "na Rússia não inventaram nada de nada". Ele responde que justamente agora ele começou se sentir em casa na Rússia. Putin para ele é um político absolutamente europeu, que morou a metade da sua vida na Alemanha e conhece a tradição europeia. Por que até a gente eurocentrista, embora na crise econômica, se sente justamente agora 'como em casa'? 
Medvedev como Nikolai II

Claro que não há retorno nenhum de stalinismo, senão do estado. Nos termos da teoria demógrafica-estrutural [7.] vivemos a fase da "reação tradicionalista" que segue depois da fase da crise/inovação e antes da fase da síntese. O retorno das formas soviéticas com conteúdo antisoviético - é uma reação tradicionalista à catástrofe dos anos 90. A superação do antissovietismo, que estamos esperando tanto na Rússia, poderia ser uma sinal de aproximação da fase da síntese. 

É interessante como está mudando a postura do Patriarca Kirill: há pouco, ele reconheceu a façanha de Zoia Kosmodemianskaya, que era uma mártir da luta da URSS contra a Europa Fascista. Se antes a Igreja Ortodoxa Russa repetia todos os dias as besteiras antissoviéticas do tipo: "Se Lenin pudesse se benzer, ele desapareceria como um diabo acabado", hoje a Igreja descobre na experiencia soviética aos mártires e o lado positivo do projeto da URSS! 

O problema é que a oposição maniqueísta não procura nenhuma "síntese". Daí vêm a alegria e a inveja pelo motivo de "Leninemoto" na Ucrânia durante os últimos anos (depois da revolução colorida em 2004 e hoje depois do golpe de 2014). Cada vez na Rússia são mais audíveis as palavras: Talvez Hitler não fosse tão ruim para a gente... O Maidan de Kiev atrai aos "revolucionários" que se auto-identificam com a "Cultura 1": Maidan como o triunfo da arcaização, pocilga no centro duma cidade europeia, liberdade desenfrenada de niilismo. Como disse o escritor satírico neoliberal Mijail Zhvanetski: "Há de achatar a Rússia...". 

Neste sentido o caso escandaloso das Pussy Riot (ao pé das letras "a rebelião da vagina") pode ser interpretado como uma rebelião de buraco da piscina "Moscou" [8.] contra o Templo de Cristo Salvador e contra o Palaço dos Soviets que deveria ser construido aí nos anos 30. A oposição insiste: o Templo tem que ser explodido! O Palaço dos Soviets nunca deve ser construido! Precisamos da piscina, do "espalhamento, horizontalidade, futurismo"! 


1.2 A superação do cisma


Achamos que o governo deve satisfazer esta demanda! Vocês precisam de "espalhamento" - aqui tem a automovilização dos últimos anos. Aqui tem a terra de graça no Oriente Extremo (o governo ofereceu 1 hectare por pessoa no Oriente Extremo de graça para frear a despovoação da região). A cidade de Moscou está se espalhando a cada dia - administrativamente absorvendo as terras da região de Moscou e de outras regiões. As cidades se conectam com as vias férreas de trens de alta velocidade. O governo joga os ministérios federais fora de Moscou - para o Oriente Extremo. O tema de mudança de capital também surge periodicamente. A Terceira Roma deve ser espalhada por toda a Rússia: vemos, que por todas partes se construem os Coliseus das Universíadas, Olimpíadas e Campeonatos. 

Nas condições da crises e compressão demográfica para evitar a catástrofe o grupo governante precisa da redistribuição dos recursos das elites para o povo e claro que há de se relacionar com a toda a delicadeza com nossa oposição doida de maniqueísmo. 

O compromisso, síntese entre a Cultura 1 e a Cultura 2 na situação atual ao nível dos símbolos poderia ser a mudança da capital para o Oriente Extremo, precisamente para a cidade Svobodni (ao pé das letras: Livre), onde se constroi o novo cosmódromo russo. Assim, as ideias originais russas do século XX, como o cosmismo ecológico e vanguardismo soviético poderiam se combinar com a necessidade prática da Rússia de desenvolvimento do Oriente Extremo e da Sibéria, refugio seguro dos russos no caso da repetição de "Drang nah Osten". 

Notas:

1. Os distúrbios protagonizados pela oposição neoliberal em 2012; 

2. Os distúrbios protagonizados pelos radicais da direita em 2010; 

3. O separatismo da Sibéria potencialmente pode virar um problema, porque a reorientação da Rússia para a China faz menos importante o papel centralizador de Moscou (orientado para a Europa); 

4. É interessante que o autor entendeu que seu conceito é bastante primitivo e até intentou escrever um ensaio "Cultura 3", mas ninguém se importa. 

5. Kaganovich foi super-efetivo, responsável por muitos projetos da infraestrutura soviética nos anos 30-40, depois de golpe de Krushchov foi expulso de poder e morreu em 1991 depois de ter passado 34 anos como um simples moscovita, era campeão de bairro de dominó, morava entre a gente normal. Achamos que hoje é impossível imaginar a nenhum político de mundo repetir tal biografia depois de ir embora de poder.

6. Como na época de Stalin no período de Putin surge o interesse ao tempo de Ivã IV, criador do imperio russo. Aparecem o livro "Um dia de oprichnik" de Vladímir Sorókin (2006) e o filme "Tzar" de Pavel Lungin (2009). Mas há muita diferença entre a obra genial de Serguei Eisenshtein, que analiza o mito de estado, e éstas sátiras vulgares, que impõem o mito liberal da Rússia.

7. A teoria demográfica-estrutural analisa as relações entre o grupo governante, as elites e o povo no marco dos ciclos econômicos e demográficos: crescimento, compressão, catástrofe, considerando também a difusão tecnológica e as agressões mútuas pela causa de expansão na busca de novos recursos. 

8. O templo de Cristo Salvador original foi explodido na época da revolução para constuir no centro de Moscou o Palácio dos Sovietes, o projeto ciclópico que foi parado pela Grande Guerra Pátria. Depois da morte de Stalin, Krushchov em lugar do Palácio dos Sovietes construiu uma piscina - a piscina "Moscou", que funcionava até os anos 90, quando foi restaurado o Templo de Cristo Salvador. 

Editado por Eduardo Consolo dos Santos e http://lang-8.com/

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