Parece que a festa de Ano Novo é a festa mais integradora para os russos. O Natal não abarca a todos (muitos russos são ateus, muçulmanos, budistas, católicos, judeus). Infelizmente a festa do Dia da Vitória também está perdendo seu brilho por causa do antisovietismo totalitário dos últimos 40 anos, quando os grupos governantes de Gorbachov, a Cabeça Quebrada e de Yeltsin, o Bêbado apagando o passado soviético sem mesmo dar-se conta danificaram o núcleo do inconsciente dos russos: ficou questionada a Vitória. As novas festas, inventadas para substituir as antigas festas soviéticas, ainda não são convincentes para todos. Igual à síntese do grupo de Putin, que tentando combinar os discursos dos brancos e dos vermelhos, obviamente continua sendo mais pró-branco. Assim sendo o neutro Ano Novo ficou a maior festa do país.
O Ano Novo na Rússia tem sua tradição, que se formou na
época da URSS, mas não tem fortes conotações políticas. O Ano Novo é todo um
mistério das saladas e bebidas rituais, certos filmes na televisão (comédias,
musicais), cheiro de tangerinas, árvores do Ano Novo (quase não
dizemos "árvore de Natal") e a coisa mais importante é o discurso do líder da
nação na véspera do Ano Novo.
O presidente, ou seja, secretário geral do PCUS uns
minutos antes do inicio do Ano Novo oferece um breve pronunciamento à nação e
logo a gente olha no relógio principal da Rússia, que se encontra na Torre de
São Salvador do Kremlin de Moscou, a gente conta os 12 últimos segundos
e depois brinda, ouvindo o hino nacional. Comemos as saladas... e a gente
corre para escrever os livros geniais, músicas e bailados, poemas e fórmulas matemáticas,
para desenhar as armas supernovas, etc.
O Ano Novo é impossível sem o relógio da Torre de
São Salvador. Este relógio não só marca as horas e os anos novos, mas também
marca as épocas. Assim, no início da época de Pedro, o Grande, o
relógio que marcava tempo para o Tsarado de Moscou, foi trocado por
um novo relógio, que marcaria passo do tempo para o Império Russo de
Pedro.
Se o relógio dos tsares era tradicional, com letras em vez
de números (17 letras segundo a máxima duração do dia em verão), o novo relógio
do imperador Pedro I já os tem, é um relógio holandês (Pedro
modernizou o país ao estilo holandês).
Com Pedro começa o período de São Petersburgo, o alto tempo
dos Romanov, quando o país no início do século XX quase
virou uma colônia do Ocidente. Na época de Catarina, a Grande um prefeito de
Moscou até instalou na Torre de São Salvador um relógio, que cantava a canção
alemã "Oh du lieber Augustin"! Que vulgaridade e macaqueamento!
Mesmo típico para Catarina II. Como disse Pushkin, "a imperatriz perversa perverteu seu império".
O relógio atual foi feito na Rússia, é do governo de Nikolai I,
um dos melhores tsares dos Romanov, que enfrentou o segundo "Maidan"
da Rússia - a Revolta Dezembrista de 1825 (o primeiro Maidan foi o
Período de Distúrbios de 1598-1612), mas Nikolai I não conseguiu modernizar
o país, embora que quisesse disciplinar as elites. Desde Nikolai I o carrilhão duas vezes por
dia tocava as melodias da "Marcha do Regimento Preobrazhenski"
e "Сomo é glorioso nosso Senhor em Sião" de D.Bortnianski.
A "Marcha do Regimento Preobrazhenski" chefiado pessoalmente pelos imperadores passava
a idéia do serviço da nobreza ao estado e o hino religioso legitimava
a monarquia.
Lamentavelmente a nobreza não era fiel e levou o país
para o terceiro "Maidan", para a revolução de 1905-1917.
Em 1917 mais uma vez o tempo parou no Império. O
relógio da Torre de São Salvador deu errado por um míssil dos bolcheviques, que
estavam tomando o Kremlin. Não é de se estranhar que depois de subir ao poder Lenin adivinhasse:
"É necessário que este relógio comece a falar nossa língua".
Assim o relógio começou a tocar "A Internacional".
Mas "A Internacional" era pobre demais para ser
"nossa língua" - depois de expulsar os demônios da
Revolução Stalin, o Grandíssimo quer modificar o relógio para tocar o
"Hino da URSS" de 1943. Mas este projeto não deu certo, só tiraram
"A Internacional".
Os demônios expulsos por Stalin voltaram com Gorbachov e possuíram Yéltsin.
Vocês já entendem que cada vez quando a Rússia entra nos
tempos de anarquia, o relógio de São Salvador muda de alma e fala uma língua própria da
época. No desenvergonhado período de Yeltsin nosso São Salvador
cantava as melodias da ópera "A vida pelo tsar".
Putin acabou com esta zombaria e recuperou o hino
estalinista, só mudou a letra (o poeta que escreveu a nova letra "desestalinizada"
foi o mesmo senhor que tinha escrito a letra para Stalin) e desde 2000 São
Salvador canta para a gente a melodia do hino da URSS, só está proibido
pronunciar as palavras. A letra é nova, mas ninguém quer aprendê-la,
nem esportistas mesmos. Cantamos baixinho a letra antiga.
Na véspera do Ano Novo 2014 não vamos ver nosso
São Salvador. É simbólico que justo nestes dias, quando damos de cara com um
enésimo Maidan em nossa história o grupo governante volta a trocar a
alma da Torre de São Salvador. Faz umas duas semanas a Torre de São Salvador
foi coberta com andaimes.
Esperamos que se acabe o tempo de um Putin Bonzinho e que comece o tempo de um Putin, o Severo (como foi no caso de Ivã, o Severo, que gobernou o país depois de um desastre da oligarquia e também tinha 2 fases em seu governo. Sua alcunha esta traduzida erroneamente como "o Terrivel" - justo pela característica da segunda fase de seu reinado, quando ele virou "o Severo" para a nobreza).
Esperamos que o carrilhão renovado não comece a
cantar "A vida pelo tsar", nem "A Internacional", cujas
melodias fundem em "Oh du lieber Augustin".
Acreditamos que a maioria dos russos depois de ouvir 12 golpeias de carrilhão (ele vai ser virtualizado com lazeres) faceemos um desejo comum - o desejo de uma revolução desde cima e não de um golpe orquestrado pelas elites. Depois da Criméia o grupo governante de Putin recebeu um crédito real do povo, mas as taxas de juros são altas e o grupo governante de Putin tem que trabalhar duro para sobreviver. Agora suas vidas e honras como nunca dependem do povo.
Acreditamos que a maioria dos russos depois de ouvir 12 golpeias de carrilhão (ele vai ser virtualizado com lazeres) faceemos um desejo comum - o desejo de uma revolução desde cima e não de um golpe orquestrado pelas elites. Depois da Criméia o grupo governante de Putin recebeu um crédito real do povo, mas as taxas de juros são altas e o grupo governante de Putin tem que trabalhar duro para sobreviver. Agora suas vidas e honras como nunca dependem do povo.
Editado por Eduardo Consolo dos Santos
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