воскресенье, 12 декабря 2021 г.

Festa da queda da URSS

Hoje a Federação Russa celebra uma de suas festas estatais chave - o dia 12 de Dezembro, Dia da Constituição da Federação Russa, a ata que em 1993 confirmou a separação da Federação Russa da URSS, realizada em 1991. Ou seja, os apresentadores de notícias oficialistas, em lugar de usar as palavras-amebas deveriam dizer direito: parabéns por destruir a URSS!

Como isso pode ser uma festa? Pode, sim. Sem dúvidas é uma grande festa para as elites beneficiadas com o saqueio do espaço pós-soviético (e também da seita da economia de gotejamento “trickle down”). Além disso, a constituição de 1993 aprovou a privatização e as reformas de choque - às custas do bombardeio do parlamento (massacre no centro de Moscou em 4.10.1993). Parabéns por bombardear o parlamento! - deveriam dizer neste dia os deputados para o presidente. Um dos possíveis sucessores de V.Putin - o ministro da defesa S.Shoigu - ativamente participou no bombardeio do parlamento e hoje gaba-se de seu passaporte, que tem capa com desenho-alusão aos tempos do czarismo arcaico.

Como tecnicamente foi a queda da URSS?

Kravchuk, Shushkech e Yeltsin
Foi uma rebelião das elites separatistas.

Há 30 anos (em 12.12.1991) os líderes:

da República Socialista Federativa Soviética da Rússia (B.Yeltsin, o padrinho de V.Putin),

da República Socialista Soviética da Ucrânia (L.Kravchuk) e

da República Soviética Socialista da Bielorrússia (S.Shushkevich)

clandestinamente juntaram-se numa floresta da Bielorrússia, perto da fronteira com a Polônia, e bebendo o conhaque denunciaram a ata da criação da URSS. Não lhes importou a vontade dos povos da URSS, que no referendo de 17.03.1991 votaram categoricamente a favor da preservação do país.

Yeltsin vs Gorbachov
O presidente da URSS, M.Gorbachev (debilitado muito depois da crise de agosto de 1991) foi informado da atividade desta cambada dos confabuladores e o covil de separatas na floresta fronteiriça foi cercado por Spetsnaz da KGB da RSSB, mas o Gorby ignorou o golpe contra si mesmo e optou por aceitar a perda do poder e do país. A justificação foi uma ameaça da guerra civil (que poderia ser protagonizada pelas elites separatistas com suas “frentes populares”, atacando seus povos). A “guerra civil” vai ficar um argumento permanente dos saqueadores…

Ameaça da guerra civil

Na realidade a guerra civil começou mesmo no resultado da falência de Gorby, apenas na forma “fria”, que fácilmente se torna quente, se necessário: no Sudeste da Ucrânia, no Cáucaso, na Transcaucásia e Transnístria, esta guerra tem muitos focos latentes tanto nas fronteiras, como dentro da Federação Russa, os focos que podem ser ativados em qualquer momento.

A queda do nível de vida provoca crime e uma grande fuga dos povos. É por isso que a grande tarefa das elites pós-soviéticas é transformar os conflitos económico-sociais nos conflitos étnico-nacionais. Todas as elites separatistas desenvolvem seus próprios projetos nacionalistas, recorrendo à fórmula “o patriotismo é o último refúgio do canalha” e promovendo as festas novas tipo o 12 de Dezembro. Alfred Rosenberg, o nazista, responsável pelo controle dos territórios ocupados, ficaria feliz pelo trabalho desses aborígenes, tão “preocupados” pelo medo da guerra civil.

Quando o líder do Partido Comunista da Federação Russa, G.Ziuganov, ganhou as eleições para a presidência em 1996, ele cedeu o poder ao Yeltsin, odioso e hospitalizado na clínica para alcoólatras. O argumento de G.Ziuganov foi: “uma ameaça da guerra civil”...

Quando a Auditoria da Federação Russa declarou em 2003 que a privatização dos anos 1990 foi absolutamente criminal, o presidente V.Putin, escolhido pelo “dedazo” de B.Yeltsin, negou a possibilidade de revisar o roubo, balbuciando sobre “uma ameaça da guerra civil”...

Entretanto a verdadeira guerra civil foi desatada em 1991 pelo bando dos separatistas, porque a guerra civil = destruição da URSS e privatização criminal, ou seja, a destruição da matriz econômica do espaço pós-soviético a fim de evacuar o capital para o Ocidente. O culto da injustiça, desigualdade, dinheiro rápido e fácil, o patriotismo para camuflar as casotas na Áustria, Costa Azul, etc. onde acaba todo putinoide. Acaso a mortalidade excessiva dos russos (na idade de trabalhar) não é um resultado desta guerra civil “fria”?
Criação da URSS, Teatro Bolshoi, 1922

Anteriormente a guerra civil foi parada mediante a ata da criação da URSS, um projeto messiânico-modernista, dirigido pelos ascetas, que prometeram o desenvolvimento e a justiça social mediante uma desconexão do capitalismo global. Um projeto absolutamente contrário ao putinismo adaptador e passivo.

É ridículo comparar o “Não sei o que fazer” do putinismo “neoconservador”, nacionalista, com as lógicas vanguardistas e “imperiais” (no sentido integrador) da URSS.

É ridículo comparar a participação russa na Síria com a envergadura das participações da URSS na Coreia, Argélia, Egipto, Iémen, Vietnã, Síria, Angola, Moçambique, Etiópia, Afeganistão, Camboja, Bangladesh, Laos, Líbano, etc.

A Federação Russa segue uma lógica nacionalista, sem se preocupar com a perda de sua influência no espaço pós-soviético.

Perdemos os bálticos? Pois construímos um novo porto em Ust-Luga.

Perdemos a Ucrânia? Pois construímos alguns gasodutos novos North Stream 1 e 2, South Stream, etc.

Deixamos a Turquia entrar na Transcaucásia? Deixamos a China e o Irã entrar na Ásia Central? O que importa é que não deixamos entrar nestas regiões os gringos!

Este negócio nacionalista de ceder territórios e trair a gente pró-russa pode reduzir a Rússia bastante… Os grandes beneficiários desta situação são China, Turquia e Irã. A ideia principal deste negócio bizarro é manter o diálogo tenso com o Ocidente para assegurar às famílias da oligarquia e dos funcionários TOP, que moram lá, garantindo o fornecimento das matérias primas russas.

Jurando fidelidade na constituição renovada
Claro que os russos estão preocupados e tentam agir até nos termos da constituição "super flexível", que têm (ela se muda facilmente para garantir a comodidade do grupo governante).

A atuação dos russos na altura de ausência dos tribunais independentes parece anecdótica.

O doutor em medicina Igor Gundárov com base na constituição denuncia um golpe de estado, realizado por Putin. Ainda não está claro o resultado desta iniciativa.

O historiador Yuri Mujin com base na constituição tentou organizar um referendo, oferecendo a ideia de uma avaliação popular do trabalho dos deputados ao final de seus mandatos. Foi condenado pelo extremismo.

O escritor Eduard Limonov cada dia 31 organizava as marchas em defesa da cláusula 31 da constituição: “Os cidadãos da Federação Russa têm direito de reunir-se pacificamente, sem armas, realizar reuniões, manifestações e demonstrações, marchas e protestas”. Naturalmente estas marchas da “Estratégia 31” sempre acabavam sendo batidas pela polícia.

Outras pessoas com certo capital social solicitam à Procuradoria investigar os episódios de traição de Putin e seus ministros dos interesses nacionais… Como regra estas pessoas desaparecem ou ficam rapidamente na lista mundial da perseguição. Os ministros ficam nas prisões só de vez em quando. Putin fica canonizado pela propaganda do Kremlin. A constituição fica flexível, desprezada pela classe política e, em geral, inútil para o povo. Pouca gente na Rússia poderia explicar o significado da "festa" do 12 de Dezembro.