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Vocês acham que Putin se parece com Stalin? |
O alvo do Ocidente no teatro de operações na Ucrânia é a mudança do regime em Moscou e como consequência o congelamento dos projetos russos da União Aduaneira/União Econômica Eurasiática. Também é importante moderar BRICS/OCX, que desafiam a hegemonia dos EUA.
Para atingir esse objetivo, de um lado, o Ocidente está interessado na escalada da guerra civil na Ucrânia (ajuda militar e financeira para Kiev) - assim, se consegue polarizar a sociedade russa. De outro lado, o Ocidente proclama uma guerra econômica contra a Rússia (sanções) - assim, se ativa o cisma das elites russas.
O cisma da sociedade e a das elites nas condições do déficit de recursos deve levar a Rússia para uma decadência (no pior dos casos: desastre da guerra civil e desmoronamento).
1. O cisma da sociedade
Não é suficiente que o Serviço Federal de Segurança (ex-KGB) junto com os cossacos disfarçados passe para o lado da oposição neoliberal (Navalniï/Khodorkovskiï). Também é necessária uma cena de multidão para os canais tipo CNN. Quem não veio para a Praça de Pântano em 2012 [1]? Quem não veio para a Praça de Manezh em 2010 [2]?
Para ativar esta galera se lançam os memes como "sovok", "horda", "basta de dar de comer ao Cáucaso" (em Moscou), "basta de dar de comer a Moscou" (fora de Moscou).
O cisma da sociedade se realiza:
- por via ideológica ("sovok/horda" vs "liberais/europeus")
- por via territorial (Moscou, as repúblicas étnicas, Sibéria [3])
A degradação intelectual pós-soviética só fomenta o crescimento do ódio mútuo e a radicalização da sociedade.
Por exemplo, um "cidadão irritado" publica em seu Facebook uma foto das portas a um pequeno parque memorial, dedicado ao dia 9 de Maio. As portas estão pintadas como a bandeira da URSS e a bandeira da Rússia. O "cidadão alerta" escreve vincadamente em inglês: "Back to the Future!" Seus amigos lhe respondem em comentários: "Há de disparar uma metralhadora contra essa bosta!".
Ou uma jovem nos informa sobre a apertura de uma exposição dedicada a Lenin "Mito de nosso líder amado" e sugere para os "iniciados": "Vocês sentem os cheiros de..."?
Ao mesmo tempo, se para os liberais "tudo está claro", os patriotas estão confundidos: "Cheiros de que? Qual re-sovietização? Onde vocês vêm o retorno de stalinismo? Na política do Banco Central? Nas reuniões ultraliberais do Fórum de Gaidar? E as privatarias contínuas de tudo - isso também é o retorno de stalinismo?".
1.1 Meme do eterno retorno de stalinismo

Os patriotas perguntam: "Vocês acreditam seriamente que os monumentos dos últimos anos a Stolypin (primeiro ministro de Nikolaï II), Alexandr I (tsar, famoso por seu liberalismo), Brodskiï (poeta dissidente), Kolchak (líder do Exército Branco), até temos um monumento ao iPhone - sério vocês acham que tudo isso é "sovok" e "eterno retorno de stalinismo"?
Os liberais mais astutos respondem que "sim". "Stalinismo" em dado caso já não tem a ver com a URSS, o stalinismo é "tudo, que tem a ver com a história do estado na Rússia". A própria visão historicista já é um elemento de stalinismo! O culturólogo Vladimir Paperniï para explicar este fenômeno desenhou o modelo da oposição "Cultura 1 vs Cultura 2".
Conforme ao "preconceito" de Paperniï toda a história da Rússia é um círculo vicioso formado por 2 ciclos. Um ciclo é "criativo", orientado para o Ocidente, chamado "Сultura1". E outro ciclo é "obscurantista", orientado para o Oriente, chamado "Cultura 2".
Cultura 1
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Cultura 2
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A Rus’ de Kiev e de Novgorod
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A Rus’ de Vladimir e de Moscou
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Danylo da Galícia
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Aleksandr Nevskiï
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Ivã III
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Ivã IV (o Severo)
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Tempo de Dificuldades e Cisma da Igreja Ortodoxa
Russa em XVII
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Tsar Alekseï Mikhailovich, patriarca Nikon, Pedro I (?)
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Aleksandr I
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Nikolaï I
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Aleksandr II
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Aleksandr III
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Lenin e os vanguardistas
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Stalin e os realistas socialistas
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Krushchov e o "Degelo"
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Brezhnev e a "Estagnação"
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Yéltsin
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Putin
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A Cultura 1 está caracterizada pelo cosmopolitismo, democracia, "criatividade", espalhamento, horizontalidade, futurismo, etc. A Cultura 2 está condenada ao chauvinismo, autocracia, "imitação", solidificação, verticalidade, historicismo, etc.
Prestemos atenção que este conceito maniqueísta é extremamente eurocentrista, os fãs de tais oposições binárias passam por cima do fato que a Rússia sempre está nas condições de uma competição/guerra com o Ocidente e Oriente. Eles gostam das palavras "Nossa cultura se desenvolve através dos traços rápidos sob fogo do inimigo". Mas nem lhes passa pela cabeça a ideia, que este fogo pode ser dos Khazares, Cumanos, Cavaleiros teutônicos, Mongóis, Tártaros, Turcos, Polacos, Lituanos, Suecos, Japoneses, Europa de Napoleão ou Europa de Hitler. Eles em sério acham que a gente russa se autodispara mesmo (no Leste da Ucrânia são os milicianos os que bombardeiam suas cidades!).
O público russo já esta tão acostumado ao modo de pensar maniqueísta (eslavófilos e ocidentalistas, mencheviques e bolcheviques, troskos e stalinistas, liberais e "siloviki", Cultura 1 e Cultura 2), que não faz sentido de republicar 4 vez na Rússia o livro de V.Paperniï [4].
Ironicamente este modo de pensar maniqueísta não é nem europeu/hegeliano/moderno. Ele não aceita nenhum projeto do desenvolvimento positivo da Rússia, ele condena aos intelectuais-maniqueístas a uma síndrome do pânico e suicídio. Assim, o dissidente esquizofrénico Yakov Krótov chega até sonhar com que Putin pode realizar um ataque nuclear contra a Rússia mesma! A Rússia como a conhecemos tem que ser destruída ou integrada à Europa Católica, República das Duas Nações, Terceiro Reich ou OTAN.
Para entender a lógica da oposição russa temos que nos pôr no lugar de um dissidente-maniqueísta que vê o mundo com a óptica da luta entre a Cultura 1 e a Cultura 2. Neste caso "em sério" vamos descobrir, que o estalinismo/Mal/Cultura 2 estão presentes na Rússia moderna por todas partes:
- Em 2000 foi devolvida a música do hino da URSS para o hino da Rússia;
- Em 2000-2003 foi devolvida a bandeira vermelha para as Forças Armadas da Rússia (desde 2003 na bandeira vermelha aparece uma imagem da águia bicéfala, acompanhada pelas estrelas de cinco pontas);
- Em 2003 foi inaugurado o arranha-céus neoestalinista "Triumph Palace", neoclássica outra vez vira uma moda;
- Os antigos brands soviéticos cada vez são mais presentes (até as companhias estrangeiras marcam seus produtos com os brands da URSS, porque assim os compradores tem mais confiança: o soviético quer dizer de ótima qualidade);
- Por toda a parte aparecem os pequenos museus (privados!) da nostalgia soviética. Há rumores da organização de um Instituto ou Museu da URSS em Uliánovsk;
- O governo acentua seu apoio à maternidade desde 2007;
- Em 2010 o novo prefeito de Moscou qualificou o projeto de Moscow-City como um erro urbanístico (Moscow City é um macaqueamento de Manhattan, o símbolo principal da Rússia neoliberal, o projeto prima da época de Yéltsin, cuja família é proprietária da metade da obra);
- Em 2012 para a festa do Dia 9 de Maio Moscou foi decorado com as bandeiras vermelhas da Vitória;
- No cinema russo o grado tradicional de antisovietismo baixa quase até zero ("Fortaleza de Brest", "Leyenda 17", "Gagarin, o primeiro no espaço", etc.);
- Em 2013 foi devolvido o uniforme obrigatório para os alunos de escolas;
- Em 2013 foi proibida a propaganda LGBT;
- Em 2013 foi restaurada a homenagem de "Herói de Trabalho"
- Restauração dos parques públicos: Gorki, Sokólniki, VDNKh. Construção do Parque Zariadie perto do Kremlin;
- Cerimônia da apertura das Olimpíadas em Sochi em 2014
- Restauração de 2 pavilhões na expo VDNKh para seu aniversário de 75 anos em 2014 (também foi devolvido o nome soviético VDNKh à expo, que na época dos 90 tinha outro nome, ninguém lembra qual).
- Folclorização da cultura POP: Igor Rasteriaev, Alexandr F. Skliar, Vovós de Buranovo. Atualização do escritor nacional-bolchevique Eduard Limónov, a popularidade do presidente da Chechênia Ramzan Kadýrov (Limónov e Kadýrov são o "Id" do povo russo);
- O interesse para todo o soviético vira um mainstream, igual ao culto quase oficial dos Romanov: são muito exitosas as exposições "Desenho Soviético", "Vênus Soviética", "Mito do líder amado", "Infância Soviética", etc.;
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Putin como Alexandr III |
Mas estas coisas, que mencionamos acima são só características formais do "stalinismo eterno". Ao nível de conteúdo o stalinismo volta como um "cesaropapismo" - lhes diriam os intelectuais liberais, queixando-se das "relações" entre a Administração de Presidente e a Igreja Ortodoxa Russa. A formação da "nova aristocracia" também é uma característica de "stalinismo" para os liberais, que não vem diferencia nenhuma entre o gerente de Stalin Kaganovich [5] e o gerente de Pútin Abramovich (famoso mundialmente). A confrontação com o Império de Bem (Ocidente) também é um dos sinais mais claros de "stalinismo".
Claro, que para a esquerda ou aquelas pessoas que ainda lembram-se do passado soviético tudo isto é um ultraje. Obviamente as formas soviéticas que "voltam" já tem um conteúdo totalmente antissoviético. O uniforme escolar na URSS sublinhava a importância social dos estudos, quando hoje na Rússia o uniforme escolar só deve mascarar a desigualdade terrível de rentas dos pais das crianças. Embora que os diretores ultimamente acudam ao ambiente soviético para suas series e filmes, eles obrigatoriamente continuam desmascarando os "crimes de stalinismo" (às vezes eles chegam até a escala épica da bobagem como o diretor mais famoso da Rússia Nikita Mikhalkov, vencedor de Óscar) [6]. A mesma Igreja Ortodoxa Russa parece que a única coisa que faz é lembrar aos russos sobre os "crimes" de Stalin e "perseguição da Igreja" na URSS. A alardeada restauração do Parque Gorki o fez inacessível para os Veteranos de Trabalho de todos os tempos.
Mesmo assim, achamos que há um elemento de verdade na ideia do "retorno do stalinismo". Perguntamos a um jovem designer de roupa, porque ele não quer ir embora da Rússia, se o centro do mundo para ele é Paris e "na Rússia não inventaram nada de nada". Ele responde que justo agora começou se sentir em casa na Rússia. Putin para ele é um político absolutamente europeu, que morou a metade da sua vida na Alemanha e conhece a tradição europeia. Por que até a gente eurocentrista, embora na crise econômica, se sente justo agora 'como em casa'?
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Medvedev como Nikolai II |
Claro que não há retorno nenhum de stalinismo, senão do estado. Nos termos da teoria demógrafica-estrutural [7.] vivemos a fase da "reação tradicionalista" que segue depois da fase da crise/inovação e antes da fase da síntese. O retorno das formas soviéticas com conteúdo antisoviético - é uma reação tradicionalista à catástrofe dos anos 90. A superação do antissovietismo, que estamos esperando tanto na Rússia, poderia ser uma sinal de aproximação da fase da síntese.
É interessante como está mudando a postura do Patriarca Kirill: há pouco, ele reconheceu a façanha de Zoia Kosmodemianskaya, que era uma mártir da luta da URSS contra a Europa Fascista. Se antes a Igreja Ortodoxa Russa repetia todos os dias as besteiras antissoviéticas do tipo: "Se Lenin pudesse se benzer, ele desapareceria como um diabo acabado", hoje a Igreja descobre na experiencia soviética aos mártires e o lado positivo do projeto da URSS!
O problema é que a oposição maniqueísta não procura nenhuma "síntese". Daí vêm a alegria e a inveja pelo motivo de "Leninemoto" na Ucrânia durante os últimos anos (depois da revolução colorida em 2004 e hoje depois do golpe de 2014). Cada vez na Rússia são mais audíveis as palavras: Talvez Hitler não fosse tão ruim para a gente... O Maidan de Kiev atrai aos "revolucionários" que se auto-identificam com a "Cultura 1": Maidan como o triunfo da arcaização, pocilga no centro duma cidade europeia, liberdade desenfrenada de niilismo. Como disse o escritor satírico neoliberal Mijail Zhvanetski: "Há de achatar a Rússia...".
Neste sentido o caso escandaloso das Pussy Riot (ao pé das letras "a rebelião da vagina") pode ser interpretado como uma rebelião de buraco da piscina "Moscou" [8.] contra o Templo de Cristo Salvador e contra o Palaço dos Soviets que deveria ser construido aí nos anos 30. A oposição insiste: o Templo tem que ser explodido! O Palaço dos Soviets nunca deve ser construido! Precisamos da piscina, do "espalhamento, horizontalidade, futurismo"!
1.2 A superação do cisma
Achamos que o governo deve satisfazer esta demanda! Vocês precisam de "espalhamento" - aqui tem a automovilização dos últimos anos. Aqui tem a terra de graça no Oriente Extremo (o governo ofereceu 1 hectare por pessoa no Oriente Extremo de graça para frear a despovoação da região). A cidade de Moscou está se espalhando a cada dia - administrativamente absorvendo as terras da região de Moscou e de outras regiões. As cidades se conectam com as vias férreas de trens de alta velocidade. O governo joga os ministérios federais fora de Moscou - para o Oriente Extremo. O tema de mudança de capital também surge periodicamente. A Terceira Roma deve ser espalhada por toda a Rússia: vemos, que por todas partes se construem os Coliseus das Universíadas, Olimpíadas e Campeonatos.
Nas condições da crises e compressão demográfica para evitar a catástrofe o grupo governante precisa da redistribuição dos recursos das elites para o povo e claro que há de se relacionar com a toda a delicadeza com nossa oposição doida de maniqueísmo.
O compromisso, síntese entre a Cultura 1 e a Cultura 2 na situação atual ao nível dos símbolos poderia ser a mudança da capital para o Oriente Extremo, precisamente para a cidade Svobodni (ao pé das letras: Livre), onde se constroi o novo cosmódromo russo. Assim, as ideias originais russas do século XX, como o cosmismo ecológico e vanguardismo soviético poderiam se combinar com a necessidade prática da Rússia de desenvolvimento do Oriente Extremo e da Sibéria, refugio seguro dos russos no caso da repetição de "Drang nah Osten".
1. Os distúrbios protagonizados pela oposição neoliberal em 2012;
2. Os distúrbios protagonizados pelos radicais da direita em 2010;
3. O separatismo da Sibéria potencialmente pode virar um problema, porque a reorientação da Rússia para a China faz menos importante o papel centralizador de Moscou (orientado para a Europa);
4. É interessante que o autor entendeu que seu conceito é bastante primitivo e até intentou escrever um ensaio "Cultura 3", mas ninguém se importa.
5. Kaganovich foi super-efetivo, responsável por muitos projetos da infraestrutura soviética nos anos 30-40, depois de golpe de Krushchov foi expulso de poder e morreu em 1991 depois de ter passado 34 anos como um simples moscovita, era campeão de bairro de dominó, morava entre a gente normal. Achamos que hoje é impossível imaginar a nenhum político de mundo repetir tal biografia depois de ir embora de poder.
6. Como na época de Stalin no período de Putin surge o interesse ao tempo de Ivã IV, criador do imperio russo. Aparecem o livro "Um dia de oprichnik" de Vladímir Sorókin (2006) e o filme "Tzar" de Pavel Lungin (2009). Mas há muita diferença entre a obra genial de Serguei Eisenshtein, que analiza o mito de estado, e éstas sátiras vulgares, que impõem o mito liberal da Rússia.
6. Como na época de Stalin no período de Putin surge o interesse ao tempo de Ivã IV, criador do imperio russo. Aparecem o livro "Um dia de oprichnik" de Vladímir Sorókin (2006) e o filme "Tzar" de Pavel Lungin (2009). Mas há muita diferença entre a obra genial de Serguei Eisenshtein, que analiza o mito de estado, e éstas sátiras vulgares, que impõem o mito liberal da Rússia.
7. A teoria demográfica-estrutural analisa as relações entre o grupo governante, as elites e o povo no marco dos ciclos econômicos e demográficos: crescimento, compressão, catástrofe, considerando também a difusão tecnológica e as agressões mútuas pela causa de expansão na busca de novos recursos.
8. O templo de Cristo Salvador original foi explodido na época da revolução para constuir no centro de Moscou o Palácio dos Sovietes, o projeto ciclópico que foi parado pela Grande Guerra Pátria. Depois da morte de Stalin, Krushchov em lugar do Palácio dos Sovietes construiu uma piscina - a piscina "Moscou", que funcionava até os anos 90, quando foi restaurado o Templo de Cristo Salvador.
Editado por Eduardo Consolo dos Santos e http://lang-8.com/
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